No fim, só amigos?
Sinto que falhei comigo mesmo e essa sensação não me deixa confortável agora. O que me consola é que não foi necessariamente minha culpa. Falhei ao permitir alguém entrar antes que estivesse pronto para quando fosse me deixar. Eu sei. Talvez esteja sendo duro demais com tudo. A questão que sempre paira nos inícios e fins é: existe certeza de quando estaremos prontos?
Eu sabia que deixar alguém entrar seria um risco de alta periculosidade para meus sentimentos. Ainda assim, o fiz, porque a esperança de viver o amor cega todos os medos e incertezas. Estamos sempre correndo alguns riscos quando damos espaço para a oportunidade de viver o amor. Talvez por isso poucos ousem amar, se entregar, já que a dor costuma ser inversamente proporcional ao prazer.
Abri espaço. Um espaço pequeno. Talvez menor do que o meu polegar. Você entrou, conquistou território e, em seguida, partiu. Para você foi como se eu sentisse qualquer coisa ou nada, não havia com o que se incomodar, afinal, foi rápido. Bateu a porta sem nem dizer adeus e quando dei por mim, já estava longe. E eu, onde estava? Deveria então recomeçar?
– Vamos ser amigos.
Esta parece sempre a melhor saída quando não se sabe o que dizer para uma pessoa que já não sentimos atração, ou quando a conhecemos melhor e então caímos na real, que a atração era momentânea, um lapso de carência ou mero flerte. É um vai e vem de ilusões, corações partidos e crises sentimentais para administrar e superar. Faz parte. O que fará tudo pior ou melhor é apenas o senso de responsabilidade pelo sentimento do outro. Cá entre nós, numa era em que se prega tanto o eu e se transfere responsabilidades, acha mesmo que alguém vai se importar se machucou alguém? Pois é. Pose para foto, legenda barata nas redes sociais. Está tudo bem. A vida vai seguir sem culpa, mas o carma pode te fazer revisitar o próprio passado e legado deixado no coração dos outros.
deixe ir por inteiro antes que migalhas te destruam completamente... | foto: pixabay |
É por já ter vivido isso por tantas vezes e por tanto tempo que deveria me preservar. Falhei. Sequer deveria deixar você entrar. E se fosse o contrário? Se fosse eu a entrar no seu íntimo e depois sair como se tudo fosse criação única e exclusiva de quem agora vai sofrer pelos sentimentos não correspondidos? Eu seria o vitorioso? Não acho que valha a pena mensurar se isso é sinônimo de vitória.
Apenas bons e velhos amigos. Mas existe amizade quando a base partiu de um coração quebrado? Deveria ter me poupado. Evitado dar espaço a sua vontade de experimentação. Você não entende e realmente não tem como entender. O que eu vivi só eu sei, assim como você.
Sinto que falhei. Deveria ter sido mais forte, resistir à tentação e à esperança de viver algo novo. Deveria ter desistido nos primeiros sinais quando a fresta ainda podia ser facilmente recolocada. Por que deixei chegarmos até a fase do desinteresse, quando já não há estimulo nem para responder uma mensagem?
Do momento em que você se atrai por alguém até amá-la de verdade há um longo caminho. Certamente falharemos com o nosso racional de um ponto ao outro. Mas há pessoas que despertam e exigem tanto de nós nos primeiros momentos, tentam atropelar etapas por achar que vai fazer por merecer e nos corresponder, que nos faz entregarmos tudo. Nos desidratamos ao arriscar deixar o outro entrar.
E o final? Nem sempre feliz. Porque existe um lado sádico nos seres humanos no que diz respeito ao gostar. Muitas vezes tudo é esvaziado e apenas a sensação de dominar o outro que importa. A de vencer, a de conquistar. No fim tudo é apenas um jogo? Após o domínio, hora de ir embora? Ego. O sentimento passa, porque se vislumbra repetir a história com outro até se cansar e se conformar com alguns desses amores conquistados. Assim nascem os relacionamentos deste século? É como jogar a rede no oceano. Para quem jogou, vitória. Para quem está na rede, o fim. “Vamos ser amigos e tudo se resolverá”.
Pode ser que seja uma visão um tanto pessimista e que não leve tão em conta que a responsabilidade de sentir é mais de quem sente, que não se pode mudar a cabeça do outro para nos aceitar como somos, menos ainda obrigar a aceitar e notar o amor dado. Pode ser que sim. Que seja só mais um desses casos de que alguém aparece, nos pega desprevenidos e no fim o liberamos para não sofrermos.
Deixa ir por inteiro antes que migalhas te destruam completamente...
Custa caro deixar alguém entrar. Mais caro ainda se permitir se apaixonar e amar?
Quando estaremos prontos para mensurar e aceitar os próximos riscos?
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